Capitulo II



Jully

Acordei em um lugar muito claro, meus olhos doeram, o que fez com que os fechasse novamente.  Em algum lugar tinha alguém me observando, não prestei atenção, estava meio tonta, mal sentia meu corpo, precisava me sintonizar, sabia que não era minha cama, mas não fazia idéia de onde estava.Ouvi passos rápidos, senti uma mão morna pegando a minha e uma voz conhecida falou:
-Jully, abra os olhos querida.
Respirei fundo, minha cabeça latejava, aos poucos abri meus olhos, a claridade excessiva, olhei minha mãe ao meu lado, um olhar triste, parecia que tinha chorado muito. Ela sorriu um sorriso fraco e disse:
-Como se sente? Está melhor? Lembra o que aconteceu?
Fiquei pensando, o que poderia ter acontecido, minha mãe estava diferente, o cabelo maior, uma roupa que não conhecia uma cicatriz no pescoço que nunca tinha visto, mas era ela, fora isso tudo igual, os olhos, a boca, o tom de pele, o mesmo timbre de voz. Ela ficou me olhando, com certeza notou minha confusão, suspirou pesado parecendo cansada, e muito triste, falou:
-Jully, sou a tia Raquel.  Você esteve desacordada por algumas horas. Preciso que me diga como está se sentindo.
Tia Raquel, o que ela ta fazendo aqui, o que aconteceu? Onde estão meus pais, por que minha tia que mora do outro lado do país está ao meu lado e meus pais não? Tem alguma coisa acontecendo, mas não consigo lembrar o que é. Pensa Jully, pensa.
-Você não sabe o que aconteceu não é?
-Não.
Minha voz saiu como um sussurro, minha cabeça latejando ainda mais, mesmo forçando minha mente nada vinha, o que poderia ter acontecido.  Minha Tia me olhava com pena, parecia estar escolhendo as palavras, na verdade, parecia não saber o que dizer, suspirou várias vezes e vi uma lágrima correndo por seu rosto, meu coração disparou e uma sensação de perda muito grande tomou conta de mim, lembrei do meu sonho, meus olhos já encheram de lagrimas, as segurei com muito custo, tomando coragem perguntei:
-O que aconteceu tia? Por favor, não me esconda nada.
Ela me olhou angustiada, não resistiu e caiu em um choro profundo e doloroso de mais, fiquei mais apavorada, até que meu celular tocou na mesinha de cabeceira, foi como um clic no meu cérebro, a lembrança do telefonema no meio da noite, o acidente. Gritei:
-NÃO!! NÃO, NÃO, NÃO, NÃO! NÃO É VERDADE, ELES ESTÃO VIVOS, NÃO FOI NADA, FOI UM PESADELO! EU NÃO ACREDITO! O QUE VOCÊ QUER AQUI? VOLTE PRA SUA CASA, VOLTE PRA SUA TRIBO, ME DEIXE EM PAZ. EU QUERO MINHA MÃE COMIGO, MINHA MÃE E NÃO VOCÊ! EU QUERO MEU PAI, CADE ELE? MÃE, PAI, CADE VOCÊS? VENHAM ME BUSCAR, POR FAVOR!
Minha tia começou a chorar e logo a porta do quarto foi aberta, um homem alto, com feições fortes e olhos negros parou nos olhando, falou:
-Raquel, você precisa controlá-la e não se desesperar na frente da garota, tem que ser forte irmã, Jully precisa de nós.
Logo minha tia foi se acalmando, e saiu do quarto, mas eu ao contrario chorei ainda mais, meu peito doía, meus olhos ardiam, minha cabeça parecia que ia explodir, comecei a ofegar, meu tio rapidamente chamou o médico que veio em minha direção, tentou me acalmar, mas vendo que seria inútil, falou ao meu tio:
-Se ela não se acalmar vamos ter que sedá-la. Ela pode ter um enfarto desse jeito. Seu estado emocional está totalmente abalado, seu sistema nervoso está aos pedaços. Tente acalma-la.
-Jully, você ficou doze horas desacordada, precisa se controlar quer dormir novamente?- Disse meu tio.
Como assim doze horas, onde estavam meus pais? Não posso acreditar que eles realmente morreram como vou viver sem eles? O que vai ser de mim agora?
-Não, eu não quero dormir mais.  - Falei baixo em meio ao choro, meu tio ouviu e respondeu:
-Então se controle querida, nos ajude a te ajudar, ok? Se você conseguir se controlar um pouco, podemos sair daqui logo, o que você acha?
-Dói de mais tio, parece que tem um buraco aberto no meu peito. Parece que o ar me falta, esta tudo despedaçado aqui.
Falei apontando pro meu coração, ele veio em minha direção e me abraçou, um abraço forte e quente, me senti totalmente segura ali, suas mãos grandes envolveram meu corpo pequeno, ele dispensou o médico e esperou eu me acalmar, em alguns minutos me recuperei, consegui controlar o choro, falei:
-Seja sincero comigo. O que aconteceu de verdade, digo, sei que foi um acidente, mas e depois, onde eles estão? – Ainda tinha esperanças de que era um engano, e que tudo voltaria ao normal depois.
-Bem, o que sabemos é que foi um acidente de transito, mas infelizmente não sabemos quem foi, o carro de seus pais capotou e eles por estarem sem cinto, foram jogados pra fora, morreram na hora.  O hospital ligou pra você, mas como você desmaiou eles me ligaram, meu nome estava na lista de ultima ligação, pois falei com sua mãe uma hora antes do acidente, sabia que ela estava triste pelo aniversário de nosso pai e liguei pra ela. Então eu liguei para a Raquel, ela veio direto pra cá, e eu também, cheguei aqui há umas três horas, Raquel chegou primeiro, por estar mais perto. Eu fui providenciar as coisas e ela ficou aqui com você.
-Onde eles estão já os enterraram? – Minha voz saiu em um sussurro, até achei que meu tio não ouviria.
-Seu pai sim, como ele é daqui, e o estrago em seu corpo foi muito grande, o enterro foi feito hoje pela manhã, sua tia cuidou de tudo, mas sua mãe será levada para La Push, e será enterrada na sepultura da família.
-Tio, quem pagara por tudo isso, eu sei que meus pais eram humildes, não deixaram dinheiro, nossa casa e o quiosque são alugados, não sei como fazer, não entendo dessas coisas.
-Não se preocupe, já resolvi tudo, está tudo pago, não deixaria você em dificuldades em um momento como esse.
-Obrigada tio, falei chorando novamente, foi muito gentil de sua parte. Pena ter te conhecido em um momento tão triste.
-Eu sei pequena, mas não se preocupe, sua mãe era minha irmã, minha família, não fiz mais que minha obrigação.
Fiquei em silêncio por um tempo, ainda abraçada em meu tio, seu cheiro amadeirado me acalmando, ele era muito quente, mas era bom ficar perto dele, como se fosse meu pai. Minha tia entrou no quarto, já recomposta, veio em nossa direção e sugeriu que deveríamos nos preparar para ir embora, pois o médico me examinaria, e se me desse alta iríamos ainda hoje para La Push.
Fui ao banheiro e lavei o rosto, me olhei no espelho, olhos completamente inchados e vermelhos, minha pele morena cheia de marcas, me examinei melhor e vi vários hematomas em meu corpo, me assustei, quando sai do banheiro o médico falava com meu tio, perguntei:
-Doutor, que são essas marcas no meu rosto, e esses hematomas em meu corpo.
-As marcas do rosto é o resultado de sua queda, quando você desmaiou caiu e bateu com o rosto no chão. Os hematomas fazem parte do sistema nervoso, seu corpo os produziu devido ao seu estado emocional. Agora venha, vou examiná-la e se estiver ok já pode ir pra casa.
ooOOoo
Depois que finalmente fui liberada pedi para que minha tia me levasse até em casa, e ela o fez.Olhei pela última vez o local onde passei toda minha curta vida e me despedi de cada peça, fui ao quarto de meus pais e deitei na cama deles, minha tia se juntou a mim, e dessa vez choramos juntas. Meu tio veio até nós e disse para organizar as coisas, ele havia contratado uma transportadora para empacotar e mandar tudo para La Push, mas eu tinha que pegar algumas roupas para passar os dias, até que tudo fosse despachado. Enquanto arrumava as malas ele falava com os homens que fariam o serviço, a mobília não seria levada, pois ficaria na casa de minha tia, não teria onde colocar, mas todos os objetos pessoais, roupas, minha TV que ganhei de aniversário, vários pertences de meus pais. No total seriam seis caixas grandes, a mobília fora doada a um asilo da cidade, com algumas roupas também, inclusive minhas, pois La Push não fazia calor, e a maioria de minhas roupas seriam inúteis lá.
Após uma três horas de arrumação fomos em direção ao carro, fomos ao cemitério, para me despedir de meu pai, não foi nada fácil, depois passamos no quiosque que estava fechado, mas Carlos nos esperava na frente. Falei com meu tio e passei tudo para ele, meu pai ficaria feliz se o negocio continuasse aos cuidados de seu amigo, e ele mais do que ninguém merecia. Despedi-me aos prantos novamente e depois fomos ao aeroporto, fizemos o chekin e embarcamos, teríamos algumas horas até Seattle, fui à janela, minha tia no meio e meu tio na ponta, acabei adormecendo depois de algum tempo.
Acordei com minha tia chamando, avisando que havíamos chegado. Levantamos e fomos para o saguão do aeroporto. Algumas pessoas nos esperavam, reconheci minhas primas e meus primos, além de meu tio e algumas outras pessoas que não faço idéia de quem eram. No outro lado, pessoas extremamente lindas e pálidas, não se o porquê, mas apesar da aparência frágil, eles pareciam fortes, o que mais me chamou a atenção eram seus olhos dourados, que contrastavam com sua pele branca, apenas uma mulher tinha olhos cor de chocolate, à reconheci como sendo minha tia.
Não continuei com minhas divagações, pois minhas primas e primos correram até mim, me abraçando num aperto forte, quente e sufocante. Raquel foi para os braços de Paul e Jacob para os braços de Renesmee. Depois de um tempo fui apresentada a todos, minha prima Sarah segurou minha mão e me levou até eles falou: bem, esse como você já sabe são seus primos David e Matheus, Moira e eu, meu pai, Sam e Jared amigos da família, e aqueles, apontou para as pessoas pálidas que estavam ao outro lado, são os Cullens, a família da tia Nessie.
Apenas olhei para as pessoas, nada saía de minha boca, tentei dar um sorriso, mas ao contrario disso, saiu apenas uma careta, vi meu tio e Sam indo ao departamento de carga, eles pegariam o caixão de minha mãe, uma lágrima correu por meu rosto e tia Raquel a secou.
-Eu sei que não vai ser fácil querida, se preferir não precisa fazer isso, a viajem foi cansativa, esta tarde, nós vamos direto para o cemitério, mas se você quiser pode ir pra casa, suas primas te acompanham.
Pensei por um momento, queria me despedir de minha mãe, mas não queria ter que passar todo estresse do enterro, pessoas que nem conheço vindo me abraçar, falar comigo, achei que poderia ir para casa descansar e ir ao cemitério amanhã, falei:
-Tia, se não se importa, vou pra casa então. Preciso de um banho, quero descansar, amanhã cedo eu vou lá.
-Tudo bem querida, você quem sabe, Sarah te leva, e fica com você.
Saímos do aeroporto e entramos em um carro, minha prima foi dirigindo em silêncio, o caminho até La Push durou quase duas horas, nada foi dito por nós, ela me deixou a vontade, sabia que eu precisava de um tempo. Infelizmente não pude ver muita coisa da reserva, já era noite e meus olhos não me permitiram, porém vi que paramos em frente a uma casa de madeira, simples, mas bem arrumada, uma tinta vermelha cobria as paredes e uma branca as aberturas.
Sarah me guiou até seu quarto, me ajudando com a mala, me mostrou o banheiro e onde eu iria dormir, era uma cama, que saia de baixo da sua, um triliche, ela disse, dividiria meu quarto com minhas duas primas, mas nem me importei com isso. Peguei uma roupa e me dirigi ao banheiro, tomei um banho e voltei pro quarto, nem me dei ao trabalho de comer, deitei na cama e me concentrei em dormir, senti frio, estava ventando, minha prima me cobriu com dois cobertores e saiu do quarto, me deixando a vontade, fiquei pensando em como seria minha vida agora, tudo completamente diferente, teria muito que aprender e me adaptar, acabei deixando a inconsciência me tomar, dormi um noite sem sonhos, apenas na expectativa do que essa vida nova me reserva.



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