Abri os olhos desorientada, ouvia vozes ao longe, mas não identificava nenhuma. Estava em minha cama, com uma camisa grande, até de mais para ser minha, tapada por um cobertor bem quente, levantei com cuidado, sentindo frio, mas precisava ir ao banheiro. Coloquei os pés no chão de madeira, me arrepiei com isso, pois estava frio, mas não me deixei abalar. Caminhei calmamente até a porta, sempre me apoiando nas paredes, com medo de cair, quando abri a porta meu primo Davi estava parado, me olhando sério, uma expressão brava, falou:
__Onde pensa que vai mocinha?
__Preciso usar o banheiro.
__Vá logo e volte para a cama, não quer ficar doente.
Dei dois passos em direção ao banheiro que ficava quase em frente a minha porta, porém fiquei tonta, meu primo me amparou, minha cabeça caiu pra trás, então meus olhos encontraram aquele par de olhos verdes, meu coração disparou, vi sua expressão preocupada, mas logo essa expressão deu lugar à outra: indiferença.
Sem ter muitas forças, me segurei a Davi, que chamou minha tia, logo ela e minhas primas me ajudaram a ir ao banheiro, e me trouxeram de volta para a cama, protestei:
__Tia, não quero mais dormir, parece que estou cada vez mais fraca. Por favor!
Choraminguei inutilmente, ela me olhou pesarosa, mas não disse nada, apenas me cobriu e acariciou meu rosto, ficou me olhando cansada, suas olheiras escuras, sua testa franzida, preocupada, não estava sendo fácil pra ninguém e eu ainda estava piorando as coisas, falei:
__Você está bem?
Ela sorriu um sorriso simples, sem felicidade, apenas reagindo ao que falei e me disse:
__Querida, não se preocupe, estou bem. É com você que estou preocupada.
__Mas não precisa, não quero incomodar, não quero que ,fique com pena de mim e muito menos atrapalhar a vida de vocês.
__Não fale bobagens, você é como minha filha, me preocupar é normal, ter você por perto é ter um pouco de Beca comigo, não me machuque mais do que já estou.
Logo as lágrimas vieram ao meu rosto, lavando minha face, elas estavam caindo com tanta freqüência ultimamente que nem conseguia controlar, parecia que meus olhos tinham vida própria e quando via, já estava banhada em lágrimas.
__Meu Deus tia, tenho chorando tanto que vou acabar desidratada.
Ela sorriu, dessa vez um sorriso sincero e acolhedor, nos abraçamos mais uma vez. Ela tocou minha testa, fez uma expressão preocupada, disse:
__Já pedi pra Carlisle te ver, você está com febre.
__Quem é Carlisle?
__É o doutor Cullen, ele vai te ajudar, é um ótimo médico. Enquanto isso fique deitada, ele deve chegar logo.
__Não, por favor, eu vou me comportar, vou me esforçar, chega de médico. Por favor!
Choraminguei, tentando soar sincera, já estou cansada de ficar sendo tratada como uma doente, eu tenho que reagir mostrar pra eles que eu consigo ser forte. Resolvi começar corrigindo meu erro.
__Tia, onde está o tio Jacob?
Ela me olhou com os olhos semi-serrados, igual minha mãe fazia quando eu aprontava, confesso que ficar perto de minha tia torna as coisas um pouco mais dolorosas, pois é como se minha mãe estivesse aqui, e ter a certeza de que jamais a veria de novo acabava comigo, mas eu tinha que ter forças, eu vou reagir.
__Na cozinha, com seus primos, por quê?
__Você pode pedir pra ele vir aqui, quero falar com ele. Por favor. Eu vou ficar bem, não se preocupe.
__Tem certeza que vai ficar bem? É muito cedo ainda, as coisas estão muito recentes, é normal você precisar de ajuda, não precisa se fizer de forte, só nos deixe ajudar, Ok? Vou chamar seu tio e o doutor.
Em poucos minutos meu tio estava parado em frente à porta, me olhando direto nos olhos, muito devagar ele entrou no quarto, ficou esperando, sentei na cama e fiz menção para que ele sentasse ao meu lado, ele o fez. Dei um suspiro longo e profundo, tomei coragem olhei direto em seus olhos para que ele visse minha sinceridade e falei:
__ Tio, me desculpe. Eu fui uma idiota no cemitério, eu sei que não justifica, mas estava nervosa, e com muita raiva, acabei descarregando em você. Fui errada, você só queria me ajudar. Errei feio, ou como dizia meu pai: Pisei na bola!
Ele continuou me olhando, mas sua expressão suavizou, ele me olhou com carinho, tocou meu ombro e disse:
__Jully, você ainda é muito jovem, está passando por uma situação muito difícil, eu entendo.
__Mas você me desculpa?
__Sim, querida, te desculpo.
__Obrigada tio!
O abracei forte, sentindo seu calor, seu peito firme e seus braços fortes me faziam sentir bem, segura, me sentia protegida. Minha tia logo avisou que o médico chegou, soltei meu tio e fiquei esperando, deitei na cama novamente me sentindo bem mais leve.
Logo entrou um homem muito bonito, loiro, com olhos dourados, não lembro de te-lo visto no aeroporto, mas tinha os olhos da mesma cor que os outros, ele parou na porta e eu disse para entrar. Minha tia Raquel veio logo atrás, preocupada, ficou olhando da porta.
__Olá, sou o Dr. Cullen, você é Jully não é? Posso examiná-la?
__Claro, com certeza. – Tentei parecer sincera e simpática.
Ele veio até mim com uma maleta e começou a me examinar: olhos, respiração, coração, temperatura. Seu perfume era doce, ardeu um pouco meu nariz, suas mãos eram frias, me causavam arrepios, e seu hálito gelado me deixava zonza. Vi seu sorriso modesto, sua expressão divertida, logo seguiu com seus exames, anotando algo em um bloquinho, perguntei:
__Então, manicômio ou hospital?
__Nem uma coisa nem outra, é apenas abalo emocional, normal pela situação.
__O que sugere?
__Saia, tome ar puro, conheça novas pessoas, tente não se concentrar tanto na sua perda. Sei que não é fácil, mas você precisa se ajudar. Em certos momentos a saudade vai vir forte, você vai querer sucumbir e se desesperar, nessas horas, se apegue as pessoas que estão em sua volta, que te amam, que te querem bem. Tente ser forte, mas quando for inevitável, chore o que tiver vontade, pois nem sempre chorar é algo ruim ou devastador, às vezes traz alívio.
__O senhor deveria ser psicólogo.
__Não, apenas já tratei pessoas que passaram por essa situação.
__Ok, vou tentar.
__Não tente, faça. Vou lhe receitar uma vitaminas e um calmante leve, para você dormir, tome por trinta dias, até lá seu organismo vai estar melhor e você não precisará de mais nada.
Ele saiu do quarto, me deixando sozinha, deitada na pequena cama, meu estômago roncou, precisava comer algo, pois saí muito cedo e não comi nada, só tomei café puro. Por falar nisso, nem sei que horas são. Peguei meu telefone e vi que eram 13:00 levantei e fui colocar uma roupa, o cheiro de comida invadiu o quarto, saí e fui ao banheiro. Fiz minha higiene e me dirigi a cozinha, onde estavam todos meus primos, meus tios e alguns garotos que não conheço.
Assim que cheguei todos me olharam, senti meu rosto esquentar, tia Raquel veio até mim, me abraçou e disse:
__Como se sente querida?
__Bem melhor, e faminta!
__Bem vinda ao clube! – Disse meu tio Paul de boca cheia.
Peguei meu prato e fui me servir, tinha tanta gente que minha tia fez um monte de comida, logo fui até minhas primas e ficamos conversando em um papo que a foi até divertido. Tentei ignorar inutilmente aquele belo par de olhos verdes, que me olhava de tempos me temos, como se estivesse me checando. Depois do almoço ajudei minhas primas com a cozinha, conheci várias pessoas, mas não lembro seus nomes, depois vou ter que perguntar a minha prima novamente.
Fomos para a sala, onde meus primos estavam um rapaz de uns dezoito anos, muito alto, moreno e forte, assim como meus primos e tios, entrou pela porta e ficou me olhando, fiquei sem jeito, Sarah me salvou:
__Jully, esse é Joshua, filho de Sam.
__Olá, prazer em conhecê-lo!
Tentei ser simpática e até consegui dar um sorriso, ele pegou minha mão, beijou carinhosamente e disse:
__O prazer é todo meu!
Seus olhos brilharam e um rosnado alto foi ouvido, Benjamim levantou e saiu da sala, quase me derrubando no processo, assustada olhei pra meu tio e falei:
__O que deu nele?
O silêncio imprerou na sala, todos ficaram surpresos, mas ninguém falou uma palavra, meu tio levantou em silêncio e saiu de casa. Logo os garotos começaram a puxar conversa e ficamos reunidos, além de Joshua conheci também Aline, sua irmã que tem a minha idade e pelo que soube namora meu primo Davi, também conheci Tayler filho de Jared e Kim, que namora minha prima Sarah.
A todo instante Josh me olhava e seus olhos brilhavam, vi minha prima Moira incomodada com isso, ela com certeza gostava dele e não estava feliz com essa situação, teria que dar um jeito nisso, mas o que mais me intrigou é que horas passaram e meu tio e meu primo não voltaram, por que será que Benjamim saiu daquele jeito, qual seria o problema daquele garoto? Eu tenho que descobrir, vou descobrir, ou não me chamo Jully Smiters.