-Benjamin, posso falar com você?
Ele ficou tenso, os garotos me olharam, ninguém disse uma palavra, vi que ele evitava me olhar diretamente, segurou a lata de refrigerante com tanta força que acabou amassando-a, suspirou e disse:
-O que você quer?
-Já disse, quero falar com você!
-Então fale. – ele disse sério parecendo furioso.
-Em particular, vamos andar um pouco? Não se preocupe, eu não mordo.
Saí em direção ao grande penhasco, nem me dei ao trabalho de ver se ele me seguia, pois podia ouvir seus passos atrás de mim, ouvi um comentário vindo de minha tia Raquel:
-Isso pode não dar certo, você tem que ficar de olho.
Não sei pra quem ela falou isso e nem me preocupei, apenas continuei andando, com passos largos, eu sentia tanta raiva, tanto ódio, que ,meu corpo tremia, minha respiração estava acelerada e meu coração disparado. Parei em frente ao grande paredão, agora as vozes eram só murmúrios trazidos pelo vento, e as figuras que riam e brincavam a beira da fogueira estavam longe. Ainda de costas suspirei e tentei ao máximo me concentrar, girei meus calcanhares ficando de frente para ele, olhei diretamente em seus olhos e falei:
-Por que você me odeia?
Ele ficou surpreso, sua expressão confusa logo mudou para sarcástica, ele falou:
-Quem te disse isso? Ou você adivinhou sozinha?
-Ninguém me disse nada, e nem precisa, não sou burra, vejo como você me olha, o jeito que reage a mim, sempre tem muita raiva e muito medo em seus olhos. Do que você tem medo?
-Não tenho medo de nada!
-Você está mentindo!
-Não, não estou!
-Então, simplesmente me odeia?
-Eu não odeio você.
-Por que me despreza tanto?
-Não te desprezo.
-Por que tanta distância? Desde que cheguei aqui você me evita, nem aparece mais na casa da minha tia.
-Não tenho nada pra fazer lá.
-É por minha causa?
-Não, o mundo não gira em torno de você garota.
-Então o que?
-Já disse, não tenho nada pra fazer lá. É melhor agente voltar, seu namorado esta ficando impaciente, ele deve estar te procurando.
-Eu não tenho namorado.
-Não é o que parece.
-Como você sabe? Você não me vê a quinze dias, o que você sabe sobre mim?
-Mais do que você pensa!
-Há há, que legal, você sabe mais de mim do que eu penso? O que por exemplo?
-Não posso contar, sinto muito mas vai ter que descobrir sozinha.
-Há, você não diz coisa com coisa.
-Tenho que ir, sinto muito.
-Como assim? Você não respondeu nada que eu perguntei.
-Já disse, vai ter que descobrir sozinha.
-Mas você me odeia?
-Não, definitivamente não odeio você.
Ele disse isso com tanta certeza, tanto carinho e ao mesmo tempo, com tanta raiva que fiquei ainda mais confusa. Perguntei:
-Então?
-Então o que?
-Podemos ser amigos? Você poderia aparecer de vez em quando, agente pode conversar, se conhecer melhor.
Nunca fui muito de tomar a iniciativa, sempre fui muito tímida, na minha, mas com Benjamim eu estava sentindo tanta necessidade de ficar perto dele que nem me importei, peguei sua mão quente e olhei direto nos seus olhos:
-Não me pergunte como, ou por que, mas eu gosto de você, quero ficar perto, preciso disso, me deixe ser sua amiga, me deixe fazer parte da sua vida, por favor.
Senti meus olhos marejarem, nunca tinha feito isso na minha vida, agora que estou perto dele, não posso simplesmente deixá-lo ir, eu o quero perto de mim, necessito disso como o ar que eu respiro. Ele me olhou com uma expressão torturada, seus olhos verdes brilhando e sua boca contorcida em uma careta. Estava visivelmente incomodado e desconfortável, como se o que eu disse o tivesse ofendido muito, ele disse:
-Acredite, não devemos ser amigos.
-Por quê?
-É melhor assim.
-Quem disse?
-Eu estou dizendo.
-Você não pode decidir as coisas por mim.
-Não eu não posso, mas posso por mim.
-Então é isso?
-Jully, por favor, não torne as coisa mais difíceis do que elas já são.
-Você quem está fazendo isso. Por quê? Você se acha tão importante e tão especial que não pode ser meu amigo? O que foi, sou tão insignificante assim pra você?
-Você não sabe o que está falando.
-Então me diga!
-Não!
-Me diga a verdade! Eu quero saber!
-Eu vou embora.
Nem percebi que gritava, quando ele virou de costas pra mim, eu estava furiosa, via tudo vermelho. Olhei e ao longe as pessoas nos olhavam, senti vontade de gritar com elas, mas nada resolveria, Benjamim foi se afastando, nem se deu o trabalho de me olhar, me deixou raivosa, gritei em plenos pulmões:
-Eu odeio você Benjamim!
E saí correndo, tão rápido que nem via nada em minha frente, meu corpo tremia violentamente e uma dor forte me atingiu, caí pra frente, me apoiando nas mãos, um fogo tomou minha coluna, meus ossos estalaram, como se estivessem se partindo, ouvi passos atrás de mim, e com muito esforço levantei e correi mais, só que mais de vagar agora, a dor aumentou e o fogo também, de repente ouvi o barulho de algo se rasgando, e caí. Meu corpo foi jogado pra frente e fechei os olhos esperando a queda que não veio.
Ouvi passos, dessa vez mais próxima, e me virei, eram meus tios, Seth, Jared, Joshua, David, Matheus, Leah e Embry, todos me olharam com pena, principalmente Leah, que tinha um misto de sentimentos no olhar, ela disse diretamente ao meu tio:
-Será que isso vai se repetir a cada geração?
-Eu não sei Leah, mas eu acho que sim, em cada geração de lobos haverá uma loba ou até mais de uma, quem sabe?
O que eles estavam falando, tentei perguntar, mas um ganido saiu de minha boca, fiquei confusa, não entendi nada, senti minha cabeça grande, olhei minhas mãos e vi patas, grande patas peludas cor de caramelo, me apavorou, meu tio falou:
-Calma, vou me transformar pra gente conversar.
Ele saiu com os outros, Leah veio até mim e disse:
-Eu sei o que você está sentindo, já passei por isso, fazem mais de vinte anos e ainda não me acostumo, fique calma, vou ajudar você no que puder.
Antes que eu processasse o que ela disse, senti mentes se conectando a minha, barulho de folhas sendo amassadas e galhos quebrando, podia ouvir os passos pesados na areia, meu coração disparou com medo e expectativa, logo ouvi meu tio Jacob:
-Calma Jully, somos nós, não se assuste não vamos te fazer mal.
Assim que olhei não pude acreditar no que vi, vários lobos de cores e tamanhos diferentes, mas todos grande e imponentes, todos vinham em minha direção, o que me fez dar alguns passos para trás, meu tio falou:
-Não fuja, somos seus amigos.
Então um lobo cinza, menor que os outros se aproximou de mim, e disse;
-Bem vinda a alcatéia de La Push!
Eu reconheci aquela voz:
-Leah?
-Sim, sou eu.
Fiquei confusa, nas lendas apenas os homens viravam lobos, então a ficha caiu: as lendas!
-Sim Jully, disse meu tio, não são lendas, são verdadeiras.
-Oh, então os frios também existem?
-Sim, existem, nós os caçamos, proteger a tribo é nossa prioridade.
-Mas existem vampiros em La Push?
-Acabaram de ir embora, disse Joshua, Os Cullens.
OS Cullens, meu Deus, eu estive tão perto de vampiros e nem sabia de nada, lembrei deles no aeroporto. Minha prima disse que era a família de minha Renesmee.
-Isso mesmo.
-Mas minha tia é humana, não é?
-Hibrida a mãe dela era humana e o pai dela um vampiro, quando ela foi concebida.
-É muita informação pra minha cabeça, preciso correr um pouco, extravasar um pouco de energia.
-Claro, temos muito que falar, vá com Leah, ela vai te ajudar melhor que nós. Depois vá pra casa, vou te esperar lá, leve o tempo que precisar, qualquer coisa nos chame.
-Vou junto! – Disse Joshua.
-Ok, mas não atrapalhe! – Disse Leah.
E fomos correndo, eu e Leah éramos bem mais rápidas que Joshua, que ficou reclamando por ter ficado pra trás, logo paramos para que ele nos alcançasse, Leah ficou me contando como ela se transformou, na verdade, me mostrou a morte de seu pai, e como ela sofreu até encontrar Embry.
-Jully, tem muita coisa que você deve querer saber, mas vou deixar que Jacob te conte, afinal ele é seu tio e é a vida dele, vamos voltar?
-Sim, vamos.
Corremos novamente até La Push, Com Joshua atrás de nós, parei na floresta perto da casa, Joshua se transformou e foi pegar uma roupa pra mim, logo minha tia Raquel veio, e trouxe um vestido, seu olhar tinha muito carinho, ela sentou em uma pedra e falou:
-Venha querida, eu não tenho medo de você.
Eu sentei e coloquei minha cabeça enorme sem seu colo, ela ficou me fazendo carinho e Leah disse para que eu pensasse em mim humana, fiz isso e logo senti minhas mãos no colo de minha tia, olhei em sues olhos e ela sorria, apesar de visivelmente preocupada, ela disse:
-Vamos, seu tio e os garotos estão esperando.
Coloquei o vestido e fomos para casa de mãos dadas, Leah veio conosco, peguei sua mão também, ela sorriu e aceitou tranquilamente, podíamos ouvir a algazarra dos garotos na casa, Joshua e David vieram à porta e sorriram pra mima, me abraçaram e deram espaço para que eu entrasse. Todos ficaram em silêncio e me olharam, minhas primas e tia saíram da sala, então olhei para meu tio, suspirei e disse:
-Ok, pode começar, o que você quer me contar?