Jully
Acordei me sentindo extremamente bem, as dores finalmente passaram, porém a queimação em minha garganta se fazia constante, era como brasa quente ou algo assim. Eu podia ouvir todos os sons, ainda mais que antes, sendo loba meus sentidos e instintos já eram aguçados, porém agora era muito pior, era muito mais forte e eu sabia, eu sentia, nunca mais eu seria a mesma.
Era tarde da noite e todos que estavam na casa dormiam, eu podia ouvir seus corações batendo, o sangue correndo em suas veias, minha boca se encheu de saliva, rapidamente corri em direção ao magnífico cheiro, mas paralisei ao contatar de quem se tratava. Tia Raquel estava deitada, ao lado de minha amiga Jéssica, as duas dormiam abraçadas e com lágrimas nos olhos, elas estavam com uma aparência abatida e muito, muito cansada. O que será que Jéssica fazia aqui, ou melhor, onde é aqui?
Olhei em volta e reconheci a casa, é a casa de meu tio Jacob, mas onde ele está? Minha tia? E Benjamim? Onde será que estão todos, por que ninguém veio me checar e que droga, por que minha garganta arde tanto e eu sinto essa vontade louca de pular em cima delas? Definitivamente tem algo errado comigo, algo muito errado, pois nunca em minha vida senti vontade de matar um ser humano, e agora isso não me parece tão ruim, pelo contrário, me parece natural até, meu Deus, eu virei um monstro.
Antes que fizesse alguma besteira saí correndo, pulei a grande janela e entrei na floresta escura, que pra mim parecia clara como a luz do sol, eu não me transformei em loba, na verdade, nem senti vontade disso, mas estava tão rápida que parecia estar transformada, eu estava tão confusa, tão furiosa. Sim furiosa comigo mesma, como eu podia ter cogitado a idéia de matar minha tia ou minha amiga? Como eu pude se quer pensar nessa possibilidade?
Parei em cima de uma montanha que estava coberta de neve, era muito alto e muito frio, distante o suficiente para que eu não caísse em tentação e não matasse ninguém que amo, pois não me perdoaria se o fizesse. Eu podia ver a casa de onde estava, mesmo com a nevo de cima da montanha eu via tudo, tentei colocar meus pensamento no lugar, para poder voltar e entender o que eu era, pois apesar de me sentir exatamente igual, eu me sentia completamente diferente.
Vi a movimentação em baixo da montanha, vi os Cullens se aproximando, eles deveriam estar vindo de uma viagem de caça, não me movi, eu sabia que sentiram meu cheiro e seguiriam meu rastro, ou Edward leria meus pensamentos e me encontraria, eu não podia ir até eles, era perto da casa e eu não queria matar ninguém, eu sabia que além de minha tia e Jéssica, meus primos dormiam no andar superior e meu tio estava em algum lugar nos fundos, talvez fazendo ronda, Paul e Jacob não notaram minha saída, fui rápida e silenciosa, apesar do pânico que me assolou eu fui muito rápida.
Então eles pararam, Esme como boa farejadora sentiu meu cheiro primeiro e veio em minha direção, sendo seguida pelos outros, Renesmee e Benjamim vinham junto, ele estava visivelmente ansioso e frustrado, seu olhar transmitia medo, de onde estava eu via cada uma de suas feições, até que eles desapareceram entre as árvores, para surgirem do meio delas, alguns segundos depois.
Não me mexi, permaneci onde estava meu cérebro estava ciente de que haviam dois corações batendo muito rápido e muito próximos, eu não podia correr o risco de atacá-los, não por mim, mas por eles, eu os amava e não podia machucá-los em hipótese alguma. Era questão de honrra pra mim, Benjamim lutava diariamente para não machucar ninguém, eu faria o mesmo, não podia decepcioná-lo, eu seria forte. Lentamente levantei a cabeça e encarei aqueles olhos que eu tanto amo, vi neles tanto amor, tanto carinho e uma devoção, como se ele me visse pela primeira vez, então sem pensar, eu instintivamente me joguei em seus braços quente e macios,feitos especialmente pra mim, meu porto seguro, meu chão, meu céu meu ar, o segurei com tanta força que poderia te-lo partido ao meio se fosse humano, ele automaticamente retribuiu meu abraço e permaneceu me agarrando por algum tempo, de olhos fechados, sentindo apenas seu cheiro, afastei completamente a idéia de que seu sangue pulsava e eu estava sedenta. Me concentrei nele, em nós dois, em tudo que ele representa pra mim e ´ra minha vida, então com a voz abafada pelo seu ombro falei:
-Eu te amo, senti saudades!!!
Ele me apertou ainda mais em seu corpo, tanto que cheguei a sentir um pouco de falta de ar, mas não reclamei, me acomodei simplesmente, então ele disse:
-Nunca mais, nunca mais você vai sair de perto de mim! – Então ele me afastou e olhou nos meus olhos, ele parecia bem mais velho e muito cansado, disse:
-Você não tem idéia o inferno que foi sair da escola e não te encontrar, te procurar por dias e dias sem ter noticia, não ter forças nem vontade de fazer nada, só pensando que o pior podia ter acontecido, e depois quando te encontramos e você ficou inconsciente, por Deus Jully, eu pensei que jamais acordaria, foi um pesadelo, por favor, eu te imploro, não faça mais isso comigo!!
-Me desculpe, mas sinceramente, eu não faço idéia do que aconteceu.
Então Carlisle se pronunciou pela primeira vez:
-Do que você lembra minha querida?
Eu forcei minha cabeça a pensar no que lembrava, eram coisas desconexas, desorganizadas, muitas sem sentido, então Edward falou:
-Jully, verbalize seus pensamentos, eles vão entender.
-Ok, quando saí da escola, lembro de ter levando uma pancada forte na cabeça e ter sentido um cheiro muito doce, depois uma queimação terrível, por Deus, eu achei que meu corpo estava derretendo.
-O que mais? – por favor, querida, nos conte tudo.
-Sim Carlisle, deixe-me pensar.
Eu tentei me soltar de Benjamim, mas ele não deixou, me prendeu em seus braços como se estivesse com medo de que fosse sumir novamente, apesar de entender que ele tinha medo, me senti irritada por isso, eu teria que controlar mais meu gênio, eu estava mais irritada do que nunca, então suspirei e recomecei meu relato.
-Eu me senti queimar por alguns dias, não sei precisar quantos, ele injetavam logo em mim diariamente, era em pouca quantidade, mas a dor era forte, por vezes achei que fosse morrer. Depois de algum tempo, eu notei que alguma coisa estava diferente em mim, meus sentidos estavam ficando mais aguçados e eu me sentia ainda mais forte, porém não conseguia me transformar em loba, aliás, não me transformei mais.
È verdade, não me lembro de ter me transformado em loba desde que essas coisas aconteceram, era como se minha loba estivesse calmamente dormindo dentro de mim, ela nem reclamava mais a vontade de sair, como muitas vezes acontecia e eu tinha que me controlar pra não me transformar, agora essa parte de mim, parecia mais calma, menor.
-Depois de algum tempo, me dei conta de que eram vampiros que vinham me ver e eram eles quem injetava o líquido em mim, um dia acordei sozinha no casebre, mas podia ouvi-los à distância, então os ataquei e os matei, coloquei fogo na casa e fugi.
Então olhei para os Cullens e falei:
-Eu os encontrei depois disso mas não lembro de mais nada, só acordei agora a pouco com uma ardência muito forte na garganta e me sentindo muito estranha.
-Fale, o que você sentiu?
-Carslaile, por Deus, tem alguma coisa errada comigo, muito errada!
-Por que? Fale tudo, assim poderemos ajudar.
-Eu vi minha tia e Jéssica dormindo na sala, quando levantei eu fui até elas, eu as segui pelo cheiro.
-Isso não é novidade pra você, Jully quando você se transformou em loba seus sentidos mudaram junto, é normal você sentir o cheiro das pessoas.
-Carlisle, você não está entendendo o que Jully quer dizer, acho que suas suspeitas foram confirmadas, você estava certo em sua teoria. – Falou Edward me olhando com expressão de pesar, perguntei:
-Do que você está falando Edward?
Todos ficaram em silêncio então Benjamim pegou meu rosto em suas mãos e disse:
-Você precisa ficar calma ok? O que vou te falar pode ser meio confuso, uma loucura até, mas é a verdade.
-Você está me assustando Bem, fala logo.
-Ju, amor, você foi vitima de uma experiência, que graças a Deus não levou a sua vida, mas deixou conseqüências, digamos, permanentes.
-Que conseqüências e que experiência foi essa?
-O que você recebeu foi veneno de vampiro, você recebeu poucas quantidades diariamente, mas essa insistência fez com que seu corpo parasse d lutar e então para sobreviver seu corpo se aliou ao veneno.
-Como assim, meu corpo se aliou ao veneno?
-Você se transformou, amor seu corpo mudou, você mudou?
-Por deus homem, fala logo, em que me transformei?
Vi ele olhar para Carlisle, e ele assentiu com a cabeça, então ele me olhou novamente e falou:
-Você se tornou igual a mim, você não é mais uma simples loba, você é uma hibrida. E o que você está sentindo agora é sede, assim como eu, você agora precisa de sangue para sobreviver.